Memórias
(Manuel Antônio de Almeida)
A edição que serviu como base de estudo foi Memórias de um sargento de milícias. 15. ed. São Paulo:
Ática, 1988.
novelas bem comportadas de Joaquim Manuel de Macedo. De certa forma, a obra contraria a solenidade retórica dominante, que é substituída pelo tom humorístico e caricatural, mais próximo do gênero picaresco. Valorizam-se mais o coloquialismo e a fala popular das personagens, gente miúda saída dos arredores mais humildes da cidade do Rio de Janeiro. Em lugar do herói idealizado e mítico, surge um anti-herói
(herói pícaro), talhado bem próximo da realidade humana e sujeito a defeitos e atrapalhações que não condiziam com os modelos a serem seguidos pelo Romantismo.
Memórias de um sargento de milícias constitui a primeira afirmação do nacionalismo em nossas letras, libertando-se dos padrões discursivos lusitanos e empregando não só personagens suburbanas, mas também o linguajar do povo. Essa renúncia ao estilo vigente na época é o que dá grandeza à obra. O autor escorou-se numa tradição genuinamente popular, fugindo dos modelos folhetinescos e mundanos do Romantismo. Suas personagens não possuem a cortesia castradora dos estereótipos vigentes. O narrador penetra no tempo de d.
João VI, retomando um mundo criativo e popular, restaurando a brisa renovadora da história picaresca. Nessa obra, tudo tem cheiro de povo, sem sofisticações ou formalidades. Cria-se um mundo carnavalesco, onde a indústria não havia estancado o artesanato e a sobrevivência se fazia na base da parceria, da troca de bens, da amizade ou mesmo do furto esporádico, simples desaperto.
Um mundo onde a ordem (aristocracia lusitana e funcionalismo público) se confunde com a desordem (rebeldia e independência do zé-povinho).
Memórias de um sargento de milícias constitui um verdadeiro painel dos tempos de d. João VI; é uma crônica dos subúrbios cariocas e das diabruras de certo
Leonardinho, verdadeiro paladino