Memória
Nº 5, em 10 de junho de 2002.
Livros
“O TEMPO DA MEMÓRIA”
Transcrevo a seguir trechos do livro O TEMPO DA MEMÓRIA (De Senectute e outros escritos autobiográficos) de autoria de Norberto Bobbio. O autor, que acredito ainda esteja vivo, nasceu em 1909 no Piemonte, na Itália. Um dos grandes pensadores do século XX como jurista e cientista político, notabilizou-se nos campos da filosofia do direito e da filosofia da política.
Da excelente leitura lamento que a maioria da população brasileira não tenha as mais básicas noções do direito e do processo político. Talvez isso explique alguns tipos de nossos políticos. O idealismo (no mau sentido) e o exacerbado sentimento religioso do nosso povo impedem o correto conhecimento desses assuntos e a realidade dos conflitos inerentes à convivência humana e como eles devem ser dirimidos. Outra percepção à margem do que li neste livro e noutros de seu xará (o sociólogo alemão Norbert Elias), é que uma pessoa que domine esses conhecimentos pode usá-los, num ambiente relativamente ignorante, em proveito próprio, de um grupo ou de uma classe. Qualquer semelhança com FHC é proposital.
Sem maiores delongas, pois isso já começa a virar um artigo, vamos às citações sublinhadas durante a leitura.
Do prefácio, por Celso Lafer, nosso atual chanceler
Bobbio registra que os clássicos – regra geral – escreveram sobre a velhice aos 60 anos – como é o caso de Cícero – com o objetivo de desdramatizar a morte e fazer a apologia da sabedoria da idade.
Sua atitude (do Bobbio) diante deste mundo é a de um “iluminista-pessimista” que confia no papel da razão esclarecida nos interstícios de uma realidade factual repleta de horrores. Esse papel pode e tem sido exercido por ele, kantianamente, através do uso público da própria razão, por meio do diálogo com os conceitos e os homens. Um diálogo norteado pelas virtudes laicas da dúvida metódica, da moderação, da tolerância e do respeito pelas idéias dos outros e