memória
Por Carlos Tomaz
Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto.
Revista Ciência Hoje - Setembro/Outubro, 1993. Vol. 16, núm. 94.
Science vol. 260, pp. 1946-1950, 1993.
Nature vol. 364, pp. 147-149, 1993.
Memória é a capacidade de reter e recuperar informações, um processo que produz alterações no nosso comportamento, permitindo que o indivíduo se situe no presente, considerando o passado e o futuro. Ela fornece as bases para todos os nossos conhecimentos, habilidades, sonhos, planos e anseios. Memória é, portanto, um aspecto central da existência humana. Assim, o conhecimento de sua natureza e bases biológicas é essencial para se entender a psiquê humana e desenvolver terapias relacionadas com as doenças cognitivas.
A pesquisa básica que investiga a neurobiologia da memória está centrada em dois objetivos. O primeiro visa à identificação de áreas cerebrais envolvidas nesse fenômeno, bem como do papel dos sistemas cerebrais no controle do armazenamento dos diferentes tipos de memória. Exemplo desse tipo de investigação está ilustrado no artigo ‘Memória e Emoções’ (Ciência Hoje n~ 83). O segundo destina-se a elucidar as alterações celulares e bioquímicas que ocorrem entre neurônios durante a aquisição da informação.
Talvez a primeira proposição da existência de alterações celulares subjacentes à formação de memórias tenha sido feita pelo psicólogo canadense Donald Hebb, no seu livro Organization of Behavior publicado em 1949. Baseado nos trabalhos anatômicos de Lorente de Nó sobre a estrutura e as conexões entre os neurônios, Hebb propôs que durante a situação de aprendizagem um neurônio estimula outro, de tal forma que a sinapse entre eles se torna mais fortalecida, e isso poderia produzir alterações estruturais. De acordo com essa idéia, o armazenamento dessa informação estrutural poderia explicar o fenômeno da memória. Entretanto, ele não tinha a menor idéia