Memorias de um sargento de milicias
Memórias de um Sargento de Milícias tem uma certa diferença com o romantismo convencional. O humor que aparece de forma tímida nos romances convencionais, ocupa boa parte desta obra, funcionando como condutor das diversas aventuras em que se mete o protagonista. Da mesma forma, os personagens de classes sociais mais baixas, que normalmente ocupam posições menos destacadas, ocupam basicamente o núcleo central das ações.
O próprio protagonista se apresenta como uma versão extrovertida de herói romântico. Sua origem é engraçada, já que é descrito como “filho de uma pisadela e de um beliscão”. Com o passar dos anos se torna um malandro, tentando sobreviver à margem das diversas classes sociais, nas quais não consegue se enquadrar como.
Algumas trajetórias são bastante sugestivas. O Major Vidigal, por exemplo, age em defesa da lei de acordo com critérios muito particulares – manda prender e manda soltar.. Acaba sendo corrompido no final, ao permitir a soltura de Leonardo em troca dos afetos de uma antiga namorada. Assim, a lei logo vira bagunça e ordem se mistura com desordem, o que funciona como retrato da sociedade brasileira daquele e de outros tempos. Também é significativo o que acontece com o Barbeiro. Homem bom e afetuoso, tem em seu passado uma mancha da qual não manifesta nenhum remorso sério: tinha ficado de posse de uma pequena fortuna que a ele tinha sido confiada para ser entregue a outra pessoa. Desse modo, também as categorias de bom e mau são relativizadas.
A despeito de tudo isso, o livro pode ser entendido como romântico graças a elementos como o registro de costumes, o final feliz, as personagens que agem por impulso, a sucessão de aventuras nas perseguições do Vidigal e, por fim a história de amor envolvendo Leonardo e Luisinha. Contudo, independente de qualquer questão referente à classificação da obra, pode-se ver o livro simplesmente como uma sucessão de aventuras vividas por um