MAX WEBER E O
MISTICISMO ORIENTAL
Carlos Eduardo Sell*
Ao examinar o caráter geral da religiosidade asiática, é o próprio
Weber que afirma, tacitamente, o papel central do misticismo no Oriente. Ipsis verbis: “Isso corresponde, de resto, ao próprio caráter significativo da mística, que na Ásia é levada às suas últimas consequências”
(1991, p.145). Esta passagem nos traz duas indicações importantes. Não só a afirmação de que a mística constitui elemento essencial nas religiões asiáticas, mas, também, a conclusão, digamos assim, inversa e complementar: o mundo das religiões asiáticas é fundamental para entendermos o misticismo. É como se na Ásia o misticismo se nos apresentasse de forma pura, cristalina, genuína, constituindo-se, pela sua evidência e centralidade em laboratório privilegiado de estudo e análise.
O que esse elemento nos indica também é que o estudo da mística no
Oriente, longe de ser secundário e acidental, constitui um ponto privilegiado de acesso e compreensão da sociologia da religião de Max Weber.
É a partir desta premissa teórica que nasce este texto. Mas, além disso, gostaria de acrescentar a esta motivação de caráter teórico também uma fundamentação de ordem empírica. Esta fundamentação tem a ver com
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Doutor em Sociologia Política (UFSC) e Professor do Departamento de Sociologia e Política da Universidade Federal de Santa Catarina.
TOMO
São Cristóvão-SE
Nº 14
jan./jun. 2009
Carlos Eduardo Sell
o fato de que nas transformações do comportamento religioso da modernidade ocidental, muitos sociólogos constatam não apenas semelhanças, mas até profundas influências do misticismo oriental, configurando aquilo que Collin Campbell (1987) denominou de
“orientalização do Ocidente”. Isso significa que a mística representa um elemento central do comportamento religioso do homem contemporâneo (Champion, 1989). A conseqüência, portanto, é que a compreensão do conceito de misticismo em Weber extrapola o campo da
exegese