Matematica
Há mais de um século, o dia 13 de maio marca a data da assinatura da lei que emancipou os escravos. Mas concessão da liberdade foi acompanhada de medidas que negaram a cidadania plena aos negros.
Uma análise dos processos criminais nos pós-1888 com réus homens e mulheres aponta para o fato de que mesmo com o fim oficial da escravidão, a cor continuou sendo uma marca indelével carregada por milhares de homens e mulheres, fossem “libertos do 13 de maio” ou não. A grande migração de famílias negras em direção aos centros urbanos no alvorecer do século XX reforçou a associação da criminalidade à raça e à origem social. Numa guinada ideológica, crimes diversos eram atribuídos a uma suposta natureza da população negra e à sua herança de escravidão, ou seja, fruto de cidadãos incompletos ( em termos raciais e sociais para os cientistas da época) numa nova ordem burguesa, capitalista e urbana.
Esses mesmos que viam os negros supostamente inclinados ao crime, no entanto, silenciavam sobre as péssimas condições de vida nas cidades, marcada pelos problemas de saneamento e epidemias, pela falta de escolas e pelas políticas públicas discriminatórias de uma elite política que desenhava uma nação que deveria apagar seu passado escravista e a memória dos descendentes do cativeiro. Eliminava-se o escravo, mas inventava-se o negro/preto como uma marca social negativa. Libertava-se o trabalhador e instituía-se legalmente a idéia de “vadiagem” para controla-lo.
Essa visão estereotipada do pós-Abolição no Brasil, no entanto, vem sendo amplamente questionada por parte da historiografia mais atual, fruto de pesquisas inéditas com testamentos,processos-crime,inventários, literatura, correspondência de autoridades e políticos, recenseamentos e mesmo depoimentos de filhos e netos de ex-escravos.Esses novos trabalhos vêm pensando o período pós-emancipação também do ponto de vista das expectativas dos libertos e de seus descendentes, analisando seu legado