Mar Me Quer Mia Couto
Mar me quer, Mia Couto, Ficha informativa "Desfiar memórias como quem vai desfolhando flores" Em
Mar me Quer
,
obra editada aquando a última Exposição Mundial, em Lisboa, em 1998
(EXPO 98), configurase como tema central a relação do homem com o seu destino. A obra é composta por oito capítulos, sendo que cada um deles é introduzido por um dos “ditos” do avô Celestiano, muitos deles supostamente baseados em provérbios da nação macua, uma das etnias mais antigas, ao norte de Moçambique. A personagem do avô
(primeira geração
), um mais velho, guarda a ligação com a herança ancestral na qual estão plantadas as raízes de um povo. É a sabedoria do tempo, mas também é o fabricador de sonhos, pois incentiva o neto a seguir o seus sonho e a sua vocação
(
"O que faz andar a estrada?… o sonho. Enquanto a gente sonhar a estrada permanecerá viva"). Ao contrário do avô, a figura do pai, segunda geração
, é a do homem assimilado, que abandona os antepassados para entrar no “mundo dos brancos”. Essa traição não ocorre impunemente e, em consequência disso, acaba por sofrer uma grande perda que carregará de arrastão a luz de seus olhos, obrigandoo a voltarse para dentro de si em busca de antigas formas de conhecimento. Agualberto
,
SalvoErro pescador, apaixonouse por uma menina que, trazida por ele de outras paragens, o acompanhava na sua faina e que num dia de tempo “encabrinhado”, se precipitou na fundura do oceano para nunca mais voltar, permanecendo o mistério de tão anónima paixão. De tanto se adentrar nas profundezas marinhas, Agualberto ficou “desguarnecido de noção” (p. 30), seus olhos se transmudaram em “olhos de tubarão”, líquidos e azuis – perdia assim “as vistas como perdera o seu amor”. Cego, passa a ser venerado pela população