Manuella
Luiz Daniel Willcox de Souza1
Resumo
O trabalho se propõe a estudar a natureza teórica das causas da inflação, dividindo os argumentos entre aqueles que vêem a inflação como sendo um fenômeno exclusivamente de demanda e aqueles que a vêem como podendo ser de custos e de demanda. A ênfase será na tentativa de restabelecer a importância da inflação de custos como uma abordagem plausível e relevante para o estudo dos processos inflacionários e hiperinflacionários. Para isso é necessário mostrar que não existem condições teóricas nem empíricas que garantam que inflações crônicas e persistentes possam ser explicadas a partir de um excesso de demanda sobre a produção de pleno emprego.
Introdução
Recentemente no debate acerca das causas da inflação tem se tornado consensual a idéia de que a inflação é de natureza fiscal causada pelo déficit público financiado por emissão monetária.2 Neste caso, o maior nível de gastos públicos e/ou um menor nível de impostos estariam gerando um crescimento na demanda agregada, acima do produto de pleno emprego, o que levaria a um aumento do nível de preços, podendo, portanto, ser classificada como uma inflação de demanda.
Entretanto, esta visão não se sustenta em termos teóricos e nem em termos empíricos. A inflação pode ser de outra natureza, causada independentemente da existência de excesso de demanda na economia, por
1 Doutorando em Teoria Econômica – Unicamp. Instituto de Economia (IE). O autor agradece a
Carlos Bastos pelas longas discussões sobre o tema, aos comentários de Franklin Serrano a versões iniciais deste trabalho, a Vanessa Lopes Teixeira pelos comentários e a dois pareceristas anônimos, sem contudo responsabilizá-los por eventuais erros.
2 Esta é uma tendência que se observa no Brasil a partir da segunda metade dos anos 80 em diante. Para exemplos ver Resende (1989), Lopes (1989), Bacha