Machado de Assis

4380 palavras 18 páginas
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MEMORIAL DE AIRES: UM INGÊNUO DIÁRIO DE ANOTAÇÕES DA VIDA
ALHEIA OU A CONDENAÇÃO FINAL DE SUA (NOSSA) ÉPOCA?
Cristina Maria Baesso Canônico Lopes 1

Resumo
Ler Machado de Assis é descrer do próprio texto, é lê-lo pela veia da desmistificação. Este estudo propõe uma interpretação do romance Memorial de Aires, o último romance machadiano, escrito sob forma de diário e narração seqüenciada desenvolvida no espaço carioca. Essa narrativa de 1908 oferece dois níveis de leitura, relacionados entre si em duas estruturas: uma superficial, a história de amor entre
Tristão e Fidélia, abençoados pelo casal Aguiar, e outra latente, que constitui o cerne do livro: a traição que ocorre em nível social, afetivo, ideológico e financeiro. O leitor atento perceberá que o tema é atemporal e pertinente ao Brasil de hoje, não podendo ser
Memorial de Aires considerado uma obra menor de Machado de Assis.

Palavras-Chave: Machado- enredo paradigmático ou alegórico- traição- pessimismocondenação.

Memorial de Aires foi o último romance escrito por Machado de Assis, tendo sido levado a público em julho de 1908, ano em que o autor faleceu. É um legítimo testamento literário e existencial. O seu último romance, inspirado pela saudade, pois foi escrito após a morte de sua esposa, Carolina, investiga a velhice, fazendo ao mesmo tempo, um elogio das relações conjugais. Não podia, portanto, desenrolar-se no ambiente do Rio atual; tinha naturalmente de situar-se no passado, nos anos de 1888 a
1889, que marcaram decerto, para o autor, o declínio de um teor de vida em que ele estava profundamente integrado. O velho Rio já começara a desaparecer para Machado de Assis com a proclamação da República. Na viuvez, na velhice, mais chocante lhe devia parecer a transformação do quadro urbano em que lhe decorrera a juventude.
Voltando à narrativa em primeira pessoa, o romancista realizou, entretanto, nesse livro, uma novidade do ponto de vista técnico. O romance, em forma de

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