Lucy Ferry
O cosmos pelos antigos era visto como uma nova era onde os homens perderam seu lugar no mundo, o cosmos tinha um quadro fechado e harmonioso só que isso mudou, ao mesmo tempo em que aniquilava os princípios das cosmologias antigas , afirmando, por exemplo, que o mun¬do não é acabado, fechado, hierarquizado e ordenado, mas um caos infinito e desprovido de sentido, um campo de forças e de objetos que se entrechocam sem qualquer harmonia, a física moderna também fragilizou consideravelmente os princípios da religião cristã. A ciência reavalia as posições que a Igreja havia imprudentemente fixado a respeito de te¬mas nos quais teria sido preferível que ela não tivesse tocado : a idade da Terra, sua situação em relação ao Sol, a data de nascimento do homem e das espécies animais etc. A crença, então presa ao jugo rígido que a Igreja lhe impunha, vai começar a enfra¬quecer, de modo que os espíritos mais esclarecidos se encon¬trarão numa situação especialmente dramática em relação às antigas doutrinas da salvação que se tornavam cada vez menos criveis.
E o Cosmos pelos modernos passa a ser entendido através da "crise das referências" e, ao mesmo tempo, insinuar que entre os jovens, em especial, é "que se dane tudo": a polidez e a civilidade, o sentido da história e o interesse pela política, os mí-nimos conhecimentos sobre literatura, religião, arte. Mas esse pretenso eclipse dos "fundamen¬tais", esse suposto declínio em relação aos "bons velhos tem¬pos", em relação ao que devem ter sentido os homens dos séculos XVI diante da reavaliação, ou simplesmente da ruína de estraté¬gias de salvação que tinham provado seu valor durante sécu¬los. Desorientados, no sentido literal do termo, os humanos devem ter se preparado para encontrar por si mesmos, e talvez em si mesmos - eis por que falamos de "humanismo" para designar esse período em que o homem se encontra só, privado do socorro