Luar
Mariano, neto do avô Mariano é um universitário que retorna à Ilha Luar-do-Chão pelas mãos do tio Abstinêncio, após anos de ausência. Volta para a realização do funeral de seu avô Mariano, que ele iria comandar, segundo a tradição africana, por vontade do patriarca, um “morto- não morto” ou um vivo à espera que a morte e a terra decidam-se por recebê-lo.
Mariano atravessa de barco o rio para chegar à Ilha. Na travessia ele conhece Miserinha, uma mulher gorda e baixinha que era amante de Mariano. Quando ficou viúva, os seus filhos roubaram tudo, e ela ganhara assim o nome.
Mariano, o patriarca, era casado com Dulcineusa, de quem Miserinha se transformara em amante. Dulcineusa tinha também uma irmã e que também era amante de Mariano, Admirança.
Quando chega à ilha, Mariano encontra as casas em ruínas, exaustas de tanto abandono. A única propriedade preservada em toda a ilha é a casa do avô Mariano.
Mariano tinha mais um tio, Ultímio, um político oportunista, sem caráter e sem respeito pelas tradições do povo, que vivia na Cidade, mas que imediatamente apressara-se em comparecer ao funeral, interessado em negociar toda a Ilha, começando por desmatá-la e vender a propriedade familiar para estrangeiros interessados em terras raras.
Chegando à casa, Mariano descobre, na sala sem teto, em cima da mesa, o seu avô nem morto, nem vivo. Ele que enquanto vivo se dizia morto, e que agora, morto, teima em não morrer totalmente. O cadáver repousava sobre o lençol no qual Mariano amara todas as mulheres de sua vida.
Dulcineusa é avó, mãe, deusa, escrava. Ela sempre soubera de todas as traições de seu marido e as tolerava como “naturais”. Somente uma pergunta a atormentava após a morte do marido: “ele, afinal, a amara?”