lolilji
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Táki Cordás é médico psiquiatra e professor de Psiquiatria na Universidade de São Paulo. A+a-Imprimir
TIRANIA DA MAGREZA
Antigamente, um pouco de gordura no corpo era sinal de saúde. Aí veio a medicina dizendo que não há vantagem nenhuma em acumular tecido adiposo; ao contrário, que todos devemos ser magros.
Ao lado dessa recomendação médica, a pressão social do padrão de beleza que se baseia em modelos bonitas e absolutamente magras, sem um grama de gordura no corpo, tiranizou a vida de muita gente. Hoje, a quantidade de pessoas que luta para perder peso, faz dietas e toma remédios é enorme. Essa preocupação exagerada pode provocar um distúrbio psiquiátrico grave, cada vez mais frequente, que é a distorção da autoimagem. A pessoa se olha no espelho e vê uma figura obesa que não corresponde à realidade. Não nota a perda de gordura subcutânea nem os ossos proeminentes.
Iludida por essa falsa imagem, imagina-se com excesso de peso e diminui obsessivamente a ingesta até que, num dado momento, não consegue mais comer. Como consequência, pode desenvolver problemas graves de saúde que chegam, às vezes, a ser fatais.
A anorexia nervosa se manifesta especialmente nas mulheres, embora sua incidência esteja aumentando também nos homens.
ANOREXIA NERVOSA, DOENÇA ANTIGA
Drauzio – Estamos vivendo uma epidemia de anorexia nervosa, ou esses casos sempre existiram, mas não eram diagnosticados?
Táki Cordás – É muito antigo o registro de histórias de pessoas com bulimia e anorexia nervosas. Sabe-se que, desde a Antiguidade, algumas faziam jejum ou vomitavam várias vezes por dia para emagrecer ou manter o peso que julgavam ideal. Na Idade Média, santas e beatas da Igreja Católica tinham um padrão de conduta bastante semelhante ao das anoréxicas de hoje. Mudavam apenas os fatores desencadeantes do processo. São clássicos os casos de Santa Catarina de Sena ou de Santa Maria Madalena que faziam jejum, vomitavam e usavam ervas purgantes. Tratava-se de um jejum beatífico