Logica
Qualquer tentativa de falar num idioma particular não tem maior fundamento que a tentativa de ter uma religião que não seja uma religião em particular... Assim, cada religião viva e sau dável tem uma idiossincrasia marcante. Seu poder consiste em sua mensagem especial e surpreendente e na direção que essa re velação dá à vida. As perspectivas que ela abre e os mistérios que propõe criam um novo mundo em que viver; e um novo mundo em que viver — quer esperemos ou não usufrui-lo totalmente — é justamente o que desejamos ao adotarmos uma religião.
Santayana, Reason in Religion
1
No trabalho antropológico sobre religião levado a efeito a partir da I Guerra Mundial, duas características destacam-se como curiosas quando se compara esse trabalho com o desenvolvido antes e após a 1 Guerra. Uma delas é o fato de não ter sido feito qualquer progresso teórico de maior importância; ele continua a viver do capital concep tual de seus antepassados, acrescentando muito pouco a ele, a não ser certo enriquecimento empírico. A segunda característica 6 que esse trabalho continua a extrair os conceitos que utiliza de uniatradi ção intelectual estreitamente definida. Existem Durkheim, Weber, Freud ou Malinowski, e qualquer trabalho segue a abordagem de uma ou duas dessas figuras transcendentais, com apenas as poucas correções marginais exigidas pela tendência natural ao excesso das mentes seminais ou em virtude da expansão do montante da docu mentação descritiva religiosa. Praticamente ninguém pensa em pro curar idéias analíticas em outro lugar — na filosofia, na história, no
102 A INTERPRETAÇÃO DAS CULTURAS
direito, na literatura ou em ciências mais “exatas” — como esses ho mens fizeram. E o que me ocorre, ainda, é que essas duas característi cas não deixam de ter relação uma com a outra.
Se o estudo antropológico da religião está, de fato, num estado de estagnação geral, eu duvido que ele se possa pôr em movimento novamente