Literatura
“Trabalho às vezes dias inteiros para pescar um verso que fique em pé.”
“Repetir repetir – até ficar diferente / Repetir é um dom do estilo.”
Manoel Wenceslau Leite de Barros nasceu no Beco da Marinha, na beira do Rio Cuiabá, no Estado de
Mato Grosso, em 1916. Menino do mato (2010) é o seu 20º livro.
Adulto – e como! – o poeta constantemente se recorda do menino que foi, e esse menino era e é alguém novidadeiro, expressando-se no infinito lúdico da liberdade. Na orelha do livro, o autor antecipa sua mundividência: "... Cresci brincando no chão, entre formigas. De uma infância livre e sem comparamentos. Eu tinha mais comunhão com as coisas do que comparação. Porque se a gente fala a partir de ser criança, a gente faz comunhão: de um orvalho e sua aranha, de uma tarde e suas garças, de um pássaro e sua árvore. Então eu trago das minhas raízes crianceiras a visão comungante e oblíqua das coisas. Eu sei dizer sem pudor que o escuro me ilumina. É um paradoxo que ajuda a poesia e que eu falo sem pudor. Eu tenho que essa visão oblíqua vem de eu ter sido criança em algum lugar perdido onde havia transfusão da natureza e comunhão com ela. Era o menino e o sol. O menino e o rio. Era o menino e as árvores."
Afinal, se tudo que o existe está nomeado, a voz do poeta se permite e propõe renomear tudo pela perspectiva da criatividade pueril, como se fosse a primeira vez: “A gente gostava das palavras quando elas perturbavam / o sentido normal das ideias. Porque a gente também sabia que só os absurdos / enriquecem a poesia” (poema I).
Presente em cada passagem do livro, o Menino está inserido em um universo distante dos centros urbanos e, portanto, suas referências e seus interesses revelam elementos naturais, estritamente do mato, que despertam os sentidos e ampliam a percepção do leitor: “A gente queria o arpejo. O canto. O gorjeio das palavras” (poema II). Em sua original busca, o Menino consegue o