Literatura Como Arte
Revertendo à nossa definição de literatura como arte verbal, devemos considerar agora uma outra questão básica: Em que sentido específico a literatura é uma arte? Várias respostas têm sido sugeridas, desde a Antigüidade Clássica, para essa pergunta e começaremos por analisar três das principais explicações tradicionais. Cada uma delas, como assinalou M. H. Abrams na sua exaustiva análise e panorâmica histórica em The Mirror and the Lamp [O Espelho e a Lâmpada] tende a descrever a literatura em relação com algo que lhe é extrínseco.
Talvez a maneira mais antiga e mais venerável de se descrever a literatura como arte seja considerá-la uma forma de imitação. Isto define a literatura em relação à vida, encarando-a como um meio de reproduzir ou recriar em palavras as experiências da vida, tal como a pintura reproduz ou recria certas figuras ou cenas da vida em contornos e cores. Poderíamos dizer que a tragédia Édipo, de Sófocles, "imita" ou recria as lutas íntimas de um homem soberbo e poderoso que, lentamente, foi forçado a reconhecer e render-se à terrível verdade de que era, involuntariamente, culpado de parricídio e de incestuoso casamento com a própria mãe.
Historicamente, o conceito de arte como imitação remonta a Platão e Arístóteles. Platão apresentou esse conceito na República, quando descreveu a literatura e, a pintura em termos depreciativos, como imitações duplamente afastadas da realidade. Como a realidade era, para ele, uma forma ideal, essência ou absoluto - a Entidade Única por detrás dos muitos, a luz cujas sombras só são visíveis à humanidade na caverna - tudo o que há neste mundo e, em particular, qualquer coisa feita pelo homem, ainda que seja uma simples cadeira ou uma cama, parecia ser tão-somente uma cópia já afastada um passo da realidade. E as artes, que Platão considerava cópias dos objetos feitos pelo homem, nada mais eram do que cópias de uma cópia. Com Aristóteles, entretanto, caiu o sentido