Lisbela e o prisioneiro
O tempo cronológico do conto é progressivo e o período de duração é um dia, exatamente o dia em que o rapaz vai embora da casa de sua avó. Quando o rapaz fala de seu passado, o conflito fica latente, pois a imagem do presente, que está prestes a ser a imagem de um rapaz maduro, se contrapõe com a antiga imagem, que era a de alguém adolescente e totalmente dependente de sua avó.
A narrativa, dessa forma, está na voz em primeira pessoa. A narrativa do jovem remonta a questões do passado, fazendo com que fique a impressão de que, no momento presente, ele já é alguém maduro. Um exemplo disso é quando ele fala do tratamento que sua avó lhe dava: “Ela vivia a comprar-me remédios, a censurar minha falta de modos, a olhar-me, a repetir conselhos que eu já sabia de cor”. A voz da narrativa utiliza-se, por vezes, de discurso indireto livre, como no momento em que a avó entra no quarto: “Por fim, ela veio ao meu quarto, curvou-se: – Acordado?”.
Durante o conto, algumas marcas do conflito interno do rapaz “adolescência x maturidade” são percebidas. Ao mesmo tempo em que ele queria sair de casa o mais rápido possível, marcas de nostalgia já o cercavam. Em outras palavras, mesmo querendo atingir o mais rápido possível seu lado maduro, ele não conseguia ignorar seu passado. Nesse fragmento, podemos perceber isso:
Percebi que minha avó não me olhava. A principio, achei inexplicável ela fizesse isso, pois costumava fitar-me, longamente, com uma ternura que incomodava.