Linhares, j. como alguém é capaz de fazer isso? revista veja, ed. 2053, ano 41, n° 12, 26 de março de 2008.
Amigavelmente, Sílvia aproximava-se dessas famílias com as quais mantinha contato e, após conquistar confiança e carinho, propunha-se como adotante informal das referidas meninas, alegando que gostaria de ter uma filha e que seria capaz de promover educação e cuidados tais que os pais biológicos não tinham condições de fazê-lo. No entanto, ao tornar-se patrona das crianças, a empresária submetia-as a um processo constante de torturas que iam desde mordaças embebidas em pimenta e acorrentamentos à retirada das unhas das mãos e ingestão de fezes de animais.
Não apenas a revista Veja, mas diversos outros veículos de comunicação expuseram o caso sob a ótica que diagnosticava, sem uma justa análise, Sílvia Calabresi como portadora de desvio psicopático, assim afirmado em um dos trechos da reportagem: “Para a delegada, Sílvia apresenta sinais claros de psicopatia”. Uma vez questionados os motivos de Sílvia, esta se defendeu dando como pretexto a própria educação que recebeu na infância, afirmando, assim, que os métodos considerados torturadores significavam, para a empresária, nada mais que um processo educativo.
Episódios de teor que fere tão violentamente os valores sociais, assim como no caso Calabresi, tendem, por causa da ideologia individualista vigente, a serem atribuídos a causas unicamente internas aos indivíduos que os perpetram. William Mcdougall (1871-1938) foi um psicólogo inglês, o primeiro a formular a teoria do comportamento instintivo humano (Margaret Alic, 2001) fundada no pensamento inatista, afirmava que os indivíduos nascem com determinadas características que, através do processo maturacional, emergem no comportamento do indivíduo, assim como