leituras filosóficas
Começa aqui (Minha parte) MICHEL
FOUCAULT
A ORDEM DO DISCURSO
Gostaria de me insinuar sub-repticiamente no discurso que devo pronunciar aqui, talvez durante anos. Ao invés de tomar a palavra, gostaria de ser envolvido por ela e levado bem além de todo começo possível.
Gostaria de ter atrás de mim (tendo tomado a palavra há muito tempo, duplicando de antemão tudo o que vou dizer) uma voz que dissesse: ‘’ É preciso continuar, eu não posso continuar, é preciso continuar, é preciso pronunciar palavras enquanto as há, é preciso dizê-las até que elas me encontrem, até que me digam --- estranho castigo, estranha falta, é preciso continuar, talvez já tenha acontecido, talvez já me tenham levado ao limiar de minha historia, diante da porta que se abre sobre minha história, eu me surpreenderia se ela se abrisse’’.
Mas, o que há, enfim, de tão perigoso no fato de as pessoas falarem e de seus discursos proliferarem indefinidamente? Onde, afinal, está o perigo?
Tabu do objeto, ritual de circunstância, direito privilegiado ou exclusivo do sujeito que fala.
Existe em nossa sociedade outro princípio de exclusão: não mais a interdição mas uma separação e uma rejeição.
É curioso constatar que durante séculos. Na Europa a palavra do louco não era ouvida, ou então, se era ouvida, era escutada como uma palavra de verdade.
Era através de suas palavras que se reconhecia a loucura do louco; elas eram o lugar onde se exercia a separação; mas não eram nunca recolhidas nem escutadas.
Mas tanta atenção não prova que a velha separação não voga mais; basta pensar em todo o aparato de saber mediante o qual deciframos essa palavra; basta pensar em toda a rede de instituições que permite a alguém --- médico psicanalista --- escutar essa palavra e que