O homem bicentenário em uma leitura antropológica filosófica
A história do robô Andrew, que com sua inteligência artificial, é capaz de aprender como o ser humano e de certa forma interpretar a realidade a sua volta e até questionar a sua própria existência provoca muito mais que uma mera crítica a um filme de ficção, mas abre uma discussão dentro da antropologia filosófica. Ao observar, a princípio, a atitude do robô, que ao aprender as complexidades do ser humano na sua existência, nos relacionamentos, em toda a trajetória de sua história, inicia a partir deste conhecimento, seu processo de humanização, de ver e se reconhecer como tal, surgindo o questionamento: quantos indivíduos em sua existência (se é que se pode chamar de existência) vivem uma vida superficial enquanto humano, ou numa melhor expressão, uma sobrevida, atrelado apenas às condições socioculturais que lhe foram impostas, vivendo seus dias de “existência” em uma total incapacidade de se questionar sobre ela, incapaz de se reconhecer plenamente como ser humano. Ouvir o senhor Martin dizer que “a individualidade não tem preço” é perceber e entender o nível de exclusividade da existência da cada ser humano em sua plenitude. Reconhecer a individualidade como a expressão máxima do homem enquanto unidade existencial é desvincular totalmente a ideia de comparação com o outro, de vínculo desordenado diante da subjetividade e de uma heteronomia de dependência. Reconhecer a individualidade é alcançar a autonomia plena. No momento em que o robô deseja a liberdade, ele não deseja apenas o que seria uma “carta de alforria”, mas o reconhecimento e o autorreconhecimento de sua liberdade, de sua capacidade de escolha, de sua autonomia, onde ele é livre para decidir se continua ou não servindo a família que o tem como propriedade, de trilhar e fazer sua própria história. Também Andrew faz mudanças na aparência de seu corpo máquina, adquirindo características bem próximas à humana, pois além da