leitura de teoria da vanguarda de peter burguer
Choque, recalque; sublimação?1
Brevíssimo comentário das investigações de Peter Bürger sobre a obra de arte vanguardista
“Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa.”
Karl Marx, O 18 Brumário de Louis Bonaparte2
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Considerando que a terminologia da psicanálise, há muito, tenha se disseminado para além de seu próprio campo, absorvida e já inerente à Teoria Crítica, nos absteremos de sua devida conceituação, restringindo-a ao seu uso mais vulgar, i.e., o mais obscuro e nebuloso, para justamente reforçar seu poder de sugestão.
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É de nosso conhecimento que o fragmento em epígrafe, ainda que clássico, é das maiores vítimas dos infortúnios da ultra-exposição. Esperamos que a insistência na repetição se justifique ao final do ensaio.
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Introdução
Interrompido o fluxo de projeções que povoavam os sonhos da juventude, sob o encerramento da metafísica dos lugares, sem refúgio ou acalanto, expulsos à luz, aquelas crianças tomaram as ruas, em seus próprios fundamentos pavimentados, e com eles renasciam e se multiplicavam pelos muros de Paris as palavras dos surrealistas que,
“em termos de massas, encontraram expressão aspirações que o surrealismo proclamava desde os anos 20: revolta contra uma ordem social sentida como coerção, vontade de uma total transformação das relações interpessoais e aspirações à união de arte e vida, […] cujas implicações políticas só a partir de então passaram a ser inteiramente visíveis” (BÜRGER, p.73, 1971),
ou, como diria Aragon, o momento de revelação sob a ameaça das picaretas. (Aragon, p.44,
1996). Maio de 68, o último instantâneo das barricadas parisienses?
Após o fracasso do desejo revolucionário, em meio ao vazio da frustração do momento