lalala
Sentaram-se a uma mesa, perto da porta, também a mesa do costume e, como de costume, ele estendeu o jornal desportivo na sua frente, enquanto ela abria o malão e de lá tirava o croché branco. Em silêncio, ele mergulhou nas vitórias, nas derrotas e nos empates da véspera; em silêncio ela mergulhou numa intrincada teia de abertos e fechados.
O café tem a televisão aberta lá no alto, quase pendurada do tecto, e a telefonia de goelas escancaradas. Há quem fale das eleições europeias, há quem discuta as bandeiras azuis que este ano algumas praias não têm, há um país de leste em eleições, uma greve de maquinistas convocada para dentro de dias. Ele continua mergulhado nos golos, nas injustiças dos árbitros, nos treinadores que já deviam ter ido à vida, ai se ele mandasse. Ela continua mergulhada na sua teia de abertos e fechados. A Europa diz-lhes pouco, desde sempre que vão para a casa da Caparica para os habituais quinze dias de férias e querem lá saber de bandeiras azuis, o leste fica muito longe, e o carro está parado ali mesmo à porta do café, que lhes importa os maquinistas. Sopra uma ligeira brisa que vem da porta aberta para a rua, misturado com o aroma do café há um inconfundível cheiro a cremes de bronzear e toalhas húmidas.
Há quem entre a saia, e cumprimente amigos de uma mesa para a outra, "então cá estamos outra vez", "bom sinal, bom sinal!", há quem chame o empregado, que não tem mãos a medir, ainda para mais é ele sozinho, que o patrão não está para meter ajudante, nem sequer na época alta.
De vez em quando ela levanta os olhos da sua teia e, em silêncio, vai baixando a cabeça para corresponder ao aceno de um ou outro que passa, mais não é preciso, são apenas fugazes conhecimentos de verão, dentro de quinze dias voltarão todos a ser desconhecidos