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No segundo grau, quando estudava no Ginásio Pernambucano, um colégio estadual de Recife, formava com mais dois amigos um grupo de estudantes bastante peculiar para os padrões do ensino público. Reuníamo-nos na Biblioteca Central, localizada no Parque 13 de Maio, para estudar assuntos que não orbitavam em nosso currículo escolar, por mera curiosidade. Um dia, por exemplo, líamos sobre Limites e Derivadas, noutro, mergulhávamos em Cosmologia e mais adiante, quem sabe, estudávamos os objetos de três dimensões em um plano bidimensional em Geometria Descritiva. Fizemos um pacto, inclusive, de um se formar em Química, outro em Física e eu, em Matemática. Cheguei mesmo a fazer dois períodos de Matemática, mas concluí que não tinha talento para o ensino e não havia mercado na área de pesquisas no Brasil. Desisti de tudo e corri para as Ciências Sociais, onde me formei em Contábeis e segui carreira como auditor.
Daqueles dias de estudos na Biblioteca Estadual, havia também a iniciação em algumas obras literárias. Recordo que um dos amigos trouxe, certa vez, o livro Crime e Castigo, de Dostoiévski. Apesar de ter despertado o meu interesse, levei muito tempo para começar a lê-lo.
Crime e Castigo é uma obra-prima do escritor russo Fiódor Dostoiévski, um dos mais inovadores artistas de todos os tempos, que esboçou em seus personagens a liberdade individual, a responsabilidade e a subjetividade do ser humano.
Crime e Castigo não foge à regra do estilo do escritor e explora, através de Raskólnikov, o personagem principal, a autodestruição, a humilhação e o assassinato. A compreensão desse personagem passa por um artigo escrito por ele mesmo na trama no qual divide a humanidade entre ordinários e extraordinários, atribuindo aos últimos a quebra das regras sociais em prol do avanço humano. Seu exemplo clássico, nessa forma de enxergar os homens, é Napoleão Bonaparte, Imperador francês que liderou um golpe de Estado, promoveu assassinatos e se envolveu numa série de