LA PLANETE DES ESPRITS - Philippe Quéau
Philippe Quéau
Nós entramos na idade da abstração.
De um lado, o que de mais abstrato do que o virtual? Novo alfabeto, o virtual se impôs como uma abstração eficaz. O virtual aliou-se ao real. Ele se imiscuiu, integrou-se e finalmente dissolveu-se nas coisas. Nomes e números, imagens e modelos, presenças e representações se confundem e se fusionam. O virtual oferece novos sistemas de escrita cada vez mais abstratos, misturando o visível e o inteligível, combinando imagem e linguagem [imagens de síntese, simulação numérica] ou sobrepondo o mundo real e o mundo virtual [realidade virtual, realidade ampliada].
De outro lado, a mundialização [a compressão planetária, a circulação mundial de bens e de signos] faz proliferar as abstrações econômicas e sociais [do conceito de "livre mercado" ao de "bem comum"], com conseqüências bem reais. A res publica mundial permanece sem conteúdo político concreto. As noções de "interesse geral mundial" e de "bem comum mundial" são particularmente difíceis de caracterizar e de fazer respeitar, na ausência de uma forma efetiva de governância mundial.
A virtualização e a mundialização, convergindo, reforçam-se uma à outra, e misturam intimamente duas formas muito diferentes de abstração até confundí-las: uma, quantitativa, mensurável, e a outra, qualitativa, imaterial. A abstração do dinheiro e dos números, de um lado, a abstração das idéias e das essências, de outro. Essa confusão é perigosa: fonte de amálgamas e de confusões políticas, ela favorece a reação néo-liberal, impunemente, desreguladora, desestatizante, privatizante.
A abstração não é, em si, um fenômeno novo, nem a recusa que ela suscita. O que é novo é o império que ela erigiu sobre os espíritos, sua extensão universal, e a fraqueza do revide. O que é novo é que a abstração tornou-se o fundo comum de nossa "civilização-mundo".
Na Idade Média, a querela entre nominalistas e realistas já tratava do peso a ser dado às abstrações na