Documentos históricos questionam a imagem de vilão do apóstolo acusado de trair Jesus Cristo. Judas Iscariotes, o apóstolo que, por trinta moedas, entregou Jesus Cristo aos soldados romanos que o crucificaram, não foi um traidor, mas, sim, um herói. Judas agiu dessa maneira a pedido do próprio Jesus, que tinha de ser crucificado para voltar como o salvador da humanidade. Essa interpretação ganhou força graças a um antigo manuscrito do século IV que só agora, depois de quase dezessete séculos, foi revelado ao público. Chamado de Evangelho de Judas, o documento foi descoberto nos anos 1970 numa caverna no Egito e resistiu ao tempo graças ao clima seco da região. Desde então o manuscrito passou por diversas mãos até ser entregue em 2001 à Fundação Mecenas, em Basiléia, na Suíça. Trata-se de um documento de trinta e uma páginas de papiro, cujo texto em egípcio antigo (o copta) teria sido escrito pelos cainitas, uma seita herética do início do cristianismo. O conteúdo, divulgado na última Páscoa pela revista National Geographic, é motivo de acalorados debates dentro e fora da Igreja Católica e, acima de tudo, revela quão pouco ainda sabemos sobre a vida de Jesus Cristo. Há registros sobre a existência do Evangelho de Judas desde o século II, quando Irineu, bispo de Lyon, na Gália romana, escreveu um tratado intitulado Contra as Heresias, no qual condena os cainitas por venerarem Judas. “Eles (os cainitas) produziram uma história fictícia, a qual chama de Evangelho de Judas”, afirma o texto, escrito no ano 180. Estudiosos apontam que o manuscrito recentemente traduzido pelo suíço Rodolphe Kasser, um dos maiores especialistas em língua copta do mundo, é do século IV e seria uma versão do original grego do século II a que se refere Irineu. O bispo de Lyon indicou os quatro evangelhos canônicos – de Mateus, de João, de Marcos e de Lucas – como os únicos que os cristãos deveriam ler. Sua lista acabou se tornando a política oficial da Igreja e perdura até hoje. Os demais