Jmachado
João Machado Borges Neto
I — Introdução
Este artigo trata do problema da transformação dos valores em preços de produção, que é, como é bem sabido, é um dos temas de discussão mais clássicos da economia marxista.
Marx enfrentou a necessidade de compatibilizar a teoria do valor desenvolvida no Livro I d’O Capital com a tendência de as taxas de lucro se igualarem, que deve prevalecer na economia capitalista, na Seção II do Livro III d’O Capital, especialmente no Capítulo IX. Na sua concepção, a transformação dos valores em preços de produção se faria pela venda das mercadorias por preços (os preços de produção) que se desviam dos valores sistematicamente, realizando transferências de mais-valia entre os capitais, de modo a que a fração de mais-valia apropriada por cada um deles seja proporcional ao seu volume total e a seu tempo de rotação.
A solução de Marx para o problema, contudo, começou a receber críticas imediatamente após a sua divulgação, em 1894. A publicação dos trabalhos de Ladislaus von Bortkiewicz, em 1906-7, definiu uma abordagem da questão que tem sido desde então amplamente dominante, tanto entre os críticos de Marx quanto entre os próprios economistas marxistas1. Ela implica, no entanto, sérios problemas para a teoria do valor-trabalho. Desde Bortkiewicz, então, falar em problema da transformação tem significado fazer referência às dificuldades de encontrar um tratamento para esta questão que a resolva de um modo favorável a esta teoria.
Até recentemente, não havia formulações da questão da transformação que conseguissem responder aos argumentos de Bortkiewicz e de seus seguidores de forma satisfatória para a teoria de Marx. Nos últimos anos, contudo, foram publicados diversos trabalhos que caracterizam uma nova abordagem, que vem sendo chamada de sistema único temporal, que é muito mais consistente com as concepções fundamentais desta teoria. Os principais