Interjeição e marcadores do discurso
2.1. Introdução A passagem da gramática ao discurso supõe ir de um terreno já consolidado a outro em vias de consolidação. Como se sabe, a interjeição constitui uma matéria que desde tempos imemoráveis tem geralmente reservado um lugar, embora não muito destacado, dentro da gramática da língua; por outro lado, o estudo dos marcadores do discurso está vinculado principalmente ao desenvolvimento de determinadas correntes teórico-metodológicas surgidas nos últimos anos, que têm como objeto de estudo o texto, o discurso e a conversação. De qualquer forma, convém advertir que a terminologia não pode conduzir a engano, e que num primeiro momento podemos chegar a pensar que entre interjeições e marcadores do discurso há muito mais distância do que realmente existe. A história destes dois fenômenos linguísticos não é tão diferente como pode parecer a princípio, pois não é estranho encontrar referências a expressões que na atualidade se incluem dentro dos “marcadores do discurso” na seção correspondente a interjeição. Além do mais, apesar de não ter sido objeto de um estudo pormenorizado, obviamente os gramáticos tradicionais não ignoravam a existência destes elementos de enlance. É importante notar que a presença – nem sempre obrigatória – de uma seção dedicada à interjeição nas gramáticas, frente a menções esporádicas sobre determinados elementos de enlace, não trouxe como consequência um tratamento mais sério e rigoroso da primeira. Em geral, pode-se dizer que se há algo em comum entre as interjeições e os elementos que caem sob a denominação de “marcadores do discurso” é o fato de haver recebido um tratamento deficiente e marginal dentro da maior parte dos tratados gramaticais. O adjetivo “residual” utilizado por Alcina Franch & Blecua (1975) reflete muito bem a situação destes elementos nas gramáticas, constituindo partes ou porções que ficam na “parte da gramática”, que por distintas razões, poucos