india
Com uma população superior a mil milhões, a aproximar-se da da China, e com uma taxa de crescimento económico acima da média mundial, a Índia é hoje identificada frequentemente como uma das prováveis grandes potências do século XXI. Neste artigo proponho-me questionar esse prognóstico, já que me parece que estão longe de estar asseguradas as condições necessárias para que a Índia venha a ser uma grande potência.
As minhas dúvidas residem no facto de que a Índia independente não encarou de frente um dos mais importantes desafios, o da transformação radical das estruturas herdadas do capitalismo colonialista. É verdade que a classe governante da Índia independente decidiu enxertar um plano nacional burguês nesta herança, a qual foi preservada na sua maior parte. Analisando os sucessos, as limitações e também os fracassos deste projecto, vou colocar as questões às quais o discurso liberal modernista dominante tem fugido desde o início: estará a Índia burguesa condenada à 'compradorização' [1] inerente ao estatuto das estruturas capitalistas periféricas do país e, em consequência, será impossível que a Índia aceda ao estatuto de uma grande potência moderna, sem passar primeiro por uma verdadeira revolução social?
A HERANÇA COLONIALISTA
Na essência, a colonização britânica transformou a Índia num país capitalista, dependente da agricultura. Para o conseguir, a Inglaterra implantou sistematicamente formas de propriedade privada das terras agrícolas, o que impediu o seu acesso à maior parte dos camponeses. Esta política deu origem à formação de grandes propriedades dominantes no norte do país, sendo menos desvantajosa para as propriedades de dimensão média dos camponeses do sul que, em comparação, eram mais abastados. A maioria dos camponeses viu-se transformada numa classe pobre, praticamente sem terras. O preço desta medida capitalista assimétrica no desenvolvimento agrícola foi as condições de