ILOSOFIA E FORMAÇÃO NO ENSINO SUPERIOR

A Apologia é uma daquelas obras raras que graciosamente faz a ligação entre filosofia e literatura. O trabalho está menos preocupado em reivindicar quaisquer doutrinas filosóficas particulares do que com a criação de um retrato do filósofo ideal. Em julgamento, com a sua vida em jogo, Sócrates mantém a calma e sem hesitação defende o seu irrepreensível modo de vida. Este discurso tem servido de inspiração e justificativa para os pensadores filosóficos desde então. Também é importante na medida em que liga três grandes temas do pensamento socrático: a ironia socrática, a refutação lógica (o modo socrático de investigação) e as preocupações éticas mais elevadas que dominam a vida de Sócrates.
O oráculo de Delfos, que proclamou que Sócrates era o mais sábio dos homens, por sua consciencia de que “só sei que nada sei”, pode ser colocado como a fonte de ironia socrática. Este oráculo levou Sócrates a assumir sua postura altamente irônica de confessar sua própria ignorância, e ainda mostrar seus interlocutores como sendo ainda mais ignorantes do que ele; grande sabedoria vê, ao contrário das expectativas, a residir em um humilde reconhecimento da ignorância. Com sabedoria deste tipo, Sócrates não se leva muito a sério. De fato, sua sabedoria é profundamente humilhante, uma vez que lança todas as pretensões para o conhecimento humano em questão. Com um sorriso, Sócrates aceita que ele é melhor quanto menos ele acha que sabe, e passa esta sabedoria, juntamente com a sagacidade apropriada.
Essa ironia, então, profundamente informa o elenchus, o modo preferido de Sócrates de investigação. É importante notar que quase todos os escritos de Sócrates são diálogos (A Apologia é uma exceção) - Sócrates nunca palestra sobre suas crenças de forma unilateral. Isso apóia a idéia de que Sócrates não tem conhecimento de sua própria de apresentar. Seu método de investigação consiste em identificar o que seu interlocutor pensa que sabe, e então lentamente dissecar essas alegações de