Ilha das flores resenha
“Ilha das Flores” (1989) é um curta metragem premiadíssimo que aborda o tema da miséria do povo brasileiro, questionando alguns conceitos de humanidade e denunciando o descaso a todo esse devastador estado de flagelo humano.
Concebido a partir de uma realidade específica de uma região pobre do sul do Brasil, o curta de Jorge Furtado denuncia a triste sobrevivência de moradores da Ilha das Flores, um local onde homem e lixo convivem em bruta harmonia. O filme descreve, de maneira impressionante, as condições precárias a que estão submetidos os moradores daquela região, muitos sobrevivendo do lixo que ali é jogado, em um misto de bairro residencial e aterro sanitário. O filme resume, de certa forma, as desigualdades sociais em que o mundo moderno se insere. A busca pela sobrevivência da minoria frente às tendências de desenvolvimento tecnológico excludente a que o mundo está submetido, sugerido por meio do enredo e da escolha dos personagens protagonizados pelos próprios moradores, um misto de ficção e verdade. Numa antivisão de que o homem se aproxima (de volta) ao seu estágio primata na medida em que se distancia das questões coletivas de sobrevivência.
Percebe-se que o curta assume uma direção quase que pedagógica, encadeando uma sequência que aproxima informação relevante cientificamente ao apelo do senso comum, o que deixa uma forte marca de ironia na textualização do enredo. Talvez essa seja a combinação que desperte no espectador o sentimento de indignação da coisificação do homem, levado a lixo, a ninguém, a nada.
Embora pareça específico de uma região a verdade é que o tema da miséria humana frente às políticas sociais é muito mais do que uma realidade de uma região brasileira, ou seja, representa, infelizmente, a realidade de quase toda uma nação que historicamente teve a biografia do seu povo pautada pelo descaso de um projeto