igreja
Nas breves páginas que se seguem realizaremos uma revisão bibliográfica acerca deste rico campo de investigação da pesquisa histórica medievalista: as temporalidades que perpassaram a existência dos clérigos seculares da Idade Média Central.
A representação do tempo por um agente histórico – seja ele individual ou coletivo – é, para o estudioso de uma sociedade, um tema da maior relevância. Pois, conceber o tempo não é um fenômeno cultural de limites precisos, de alcance facilmente mensurável, tampouco um bem simbólico puro ou monolítico: revestido com a tinta invisível dos aspectos culturais que animam a vida cotidiana, o tempo se esconde numa série de domínios da existência humana onde não se manifesta explicitamente.[1] Afinal, desde que o homem almejou manter-se no compasso das estações e dos corpos celestiais ele lança continuamente vastas redes de significados sobre o tempo: assim, a duração das estrelas no firmamento torna-se poética, a marcha dos dias é dramática, o fluxo cronológico pode ser irônico... A imagem do tempo não é algo natural aos homens, mas uma elaboração multifacetada, polissêmica, densa e variável ao longo da história.[2] Ela não se encontra apenas nos relógios e calendários, mas infiltra-se nas leis e organizações políticas, nos códigos éticos e morais, nas formas de sociabilidade, nos sistemas filosóficos e religiosos, nos tratamentos dispensados ao corpo e ao espaço e até nos empregos da violência.[3] “São estas maneiras de ‘fazer a história’ que ‘marcam’ ou ‘selam’ o tempo”.[4] Uma temporalidade é um dispositivo essencial da relação do homem com o mundo que o rodeia, permitindo-lhe dotar-se de uma identidade e orientar suas ações.[5] Uma representação do tempo é a janela que oferece uma das visões mais abrangentes sobre um