Identificação e culpa: questões éticas contemporâneas
Em 1900, nessa caixa de sonhos que é o aparelho psíquico, e cujo funcionamento é pautado por uma produção significativa que tende ao infinito, cada vez mais foi se tornando premente buscar um aprimoramento na descrição daquilo que serviria como referência primeira (ou última) para o deslizar metonímico. Dificuldade similar, porém em outro contexto, apareceu nos Três ensaios (1905), no qual, ao tematizar a sexualidade, tornou-se claro a necessidade de uma explicação para a enigmática transposição das pulsões parciais em direção a algum tipo de unificação, única situação possível para trabalharmos com uma concepção de sujeito. Nesses dois momentos (1900 e 1905), o que urgia era o bom delineamento da referência que conectaria, ou daria noção de conjunto, ao que se apresentava como sem sentido ou fragmentado.
Em 1909, em uma reunião da Sociedade Psicanalítica de Viena, Freud utiliza pela primeira vez o termo 'narcisismo', propondo-o como fase intermediária necessária entre o auto-erotismo e o amor objetal. O narcisismo seria aquele ingrediente essencial que nos permitiria passar das parcialidades ao Um.
Mas, logo de início, colocou-se a dificuldade conceitual em discernir com nitidez o narcisismo daquilo que o precederia. Era necessário supor algo, "uma nova ação psíquica" (FREUD, 1914/1974, p.93), para que o narcisismo pudesse existir. Nessa "nova ação" podemos reencontrar o tema, ou motivo, deste texto: a identificação. Em 1915, no artigo "Luto e melancolia", Freud tematiza a relação entre estes dois termos. Na melancolia, a escolha inicial do objeto teria sido feita sobre