Hora do conto
CYNTHIA RYLANT
Era uma vez uma velhinha que adorava dar nome às coisas. Ela apelidou seu velho carro de Beto. A velha poltrona onde descansava apelidou de Frida. Chamava a velha cama onde dormia de Belinha. E à sua velha casa deu o nome de Glória. Toda manhã ela se levantava de Belinha, tomava uma xícara de café sentada em Frida, trancava Glória e dirigia Beto até o correio. Ela sonhava em receber uma carta de alguém, mas tudo o que recebia eram contas. A velhinha nunca recebia nenhuma carta porque todos seus amigos já haviam morrido. Isso a preocupava. Ela não gostava da ideia de estar só, sem nenhum amigo, sem ninguém a quem ela pudesse chamar pelo nome. Então ela começou a dar nome às coisas. Mas só dava nome às coisas que sabia durariam mais do que ela. Seu carro, Beto, era mais forte e ágil do que qualquer outro; sua poltrona, Frida, continuava perfeita; e nunca ouvira nem um ranger ou estalido de sua velha cama, Belinha. E sua casa, Glória, estava de pé há mais de cem anos e não parecia ter mais do que vinte. A velhinha sabia que não sobreviveria a nenhuma dessas coisas e essa ideia a deixava tranquila. Um dia, quando ela estava lavando a lama do Beto, dizendo-lhe que Glória não gostaria de ser vista com um carro sujo à sua frente, um cachorrinho marro apareceu no portão do jardim. (A velhinha não dera nome ao portão porque as dobradiças haviam enferrujado e ela sabia que o portão não duraria muito mais tempo.) O cachorrinho abanou o rabo. Parecia estar com fome. De pé, ao lado de Beto, a velhinha ficou olhando para o cachorrinho demoradamente. - Hummm – ela murmurou. Então ela foi até Glória, pegou um pedaço de presunto na geladeira e saiu novamente. Ela deu o presunto para o cachorrinho esfomeado e mandou que ele fosse para casa. Ela lhe disse que Beto sempre fazia os cachorrinhos passarem mal; que frida nunca permitia que cachorros sentassem nela e que Belinha não