homem e sociedade
Agora tudo começa a acontecer muito rica, confusa e rapidamente. O século XX traz para a Antropologia um conjunto vasto e complexo de novas ideias formuladas por um grupo brilhante de pesquisadores. Tudo isto vai, paulatinamente, exorcizando o fantasma do etnocentrismo de dentro da disciplina. É bem verdade que, ao nível do senso comum, das ideologias, dos cotidianos da sociedade ocidental, a visão etnocêntrica dos diversos “outros” deste mundo muito pouco se abala com as “revoluções” da Antropologia. Relativizar é uma palavra que, até hoje, muito pouco saiu das fronteiras do conhecimento produzido pela Antropologia.
Mas, acompanhando o etnocentrismo dentro da nossa ciência do “outro”, dentro da disciplina que estuda a diferença, encontramos, felizmente, muitas conquistas.
A ordem “natural” em que eu devo explicar estas conquistas é, por uma questão de clareza, a ordem de um tempo linear, feito de causa e consequência a, com um fato atrás do outro, alguém influenciando alguém, uma coisa resultando na outra. Melhor dizendo, deveria fazer uma “historinha”, normalzinha, certinha, com tudo se encaixando no seu lugar devido. Desde os momentos “primitivos” do etnocentrismo aos momentos “civilizados” da relativização. Deveria, em suma, como vocês já devem ter notado, fazer tal como fizeram os evolucionistas.
E agora? Me prendi num paradoxo. Explicar o avanço da Antropologia em direção à superação do etnocentrismo procedendo, nesta explicação, como os evolucionistas que tão pouco relativizaram.
Com este paradoxo tocamos bem fundo no que é a problemática etnocêntrica e nas dificuldades de sairmos das suas intrincadas malhas. Para não contar esta “historinha” da Antropologia, tipo uma fábula malfeita, é necessário relativizar a própria noção de tempo como história, como passagem linear dos acontecimentos. O mais interessante é que a própria Antropologia vai ser capaz de relativizar a noção ocidental de tempo, assim como a noção ocidental de indivíduo, assim