História, memória e literatura - lima barreto
GUSTAVO GRACIOLI DA SILVA
Trechos comentados de: Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto.
Na sequência destes breves comentários buscar-se-á vislumbrar as relações entre História, Memória e Literatura, usando como objeto de estudo a obra supracitada. Neste sentido, a metodologia será a seguinte: no título teremos o direcionamento do olhar perante o trecho que será apresentado logo em seguida. Publicado em 1915, o livro é considerado por grande maioria dos críticos e amantes da literatura como o ápice criativo e da arte de Lima Barreto. Deixando de lado esta questão menos importante no momento, reconhecemos sincronicamente o valor da obra por ele próprio, enquanto a recortamos para tecer considerações sobre seus aspectos dialéticos perante a história retratada nesta, bem como seu aspecto memorialístico sem esquecer que se trata de arte, ou seja, evitamos que se submeta o literário ao histórico.
1. Memória e recordação: “Quem uma vez esteve diante deste enigma indecifrável da nossa própria natureza, fica amedrontado, sentindo que o gérmen daquilo está depositado em nós e que por qualquer cousa ele nos invade, nos toma, nos esmaga e nos sepulta numa desesperadora compreensão inversa e absurda de nós mesmo, dos outros e do mundo. Cada louco traz em si o seu mundo e para ele não há mais semelhantes: o que foi antes da loucura é outro muito outro do que ele vem a ser após”.
(BARRETO, pg.57, 1915) Neste trecho, após uma breve passada anterior pela história de vida de Lima Barreto, encaramos uma descrição extremamente singular e pessoal do narrador perante a loucura do Major Quaresma, trazendo para o tema elementos universais da maleita. A linha entre realidade x criação artística fica tênue em tal grau que foge da alçada de qualquer crítico ou amante mais íntimo ao texto Barretiano declarar a medida correta entre o que é memória ou recordação do autor. A memória é perceptível pois o tema já está