História de Carly
Ninguém sabe o que é ser eu. O que é não poder sentar quieta porque parece que minhas pernas estão pegando fogo. É como se centenas de formigas estivessem escalando meus braços.
É assim que Carly se explica. Diagnosticada com autismo severo associado a retardo mental, Carly vive submersa em seu próprio mundo. Impossibilitada de explicar o que sente, durante muito tempo foi submetida a sessões intensas de terapia.
Aos onze anos, no entanto, algo surpreendente acontece e diante de uma tela de computador Carly consegue dizer um pouco do que sente. Carly pede ajuda.
Diante de sua história, alguns conceitos tornam-se questionáveis. Viveria o autista num "mundo próprio"e fechado? Nas palavras do pai, Carly se vê como uma pessoa normal dentro de um corpo que ela mesma não controla.
De fato, há muito mais ocorrendo dentro deles do que pensamos.
Temos, como pais e educadores, conseguido enxergar além de suas crises, de seus déficits, de seu isolamento e de seus rígidos e restritos padrões de comportamento? Que olhares e representações temos construído sobre a pessoa com autismo? Quanto subestimamos suas capacidades? Quantas vezes nos referimos a eles suspeitando que não nos compreendem? Temos buscado alternativas para que se comuniquem? Acreditamos no seu potencial?
A história de Carly nos faz refletir ainda sobre o poder da tecnologia como ferramenta capaz de facilitar a vida de um grande número de pessoas com deficiência e possibilitar o acesso ao conhecimento dando condições ainda, para que interajam e possam expor suas ideias e sentimentos acerca do mundo que os rodeia.
O desafio maior que se coloca diante de nós, educadores é adentrar este universo ainda desconhecido e obscurecido da pessoa com autismo. Calçar seus sapatos e caminhar com eles.