História da doença de chagas: ciência, saúde e sociedade
A história da doença de Chagas se inicia com uma tripla descoberta, no interior de Minas Gerais. Em abril de 1909, Carlos Chagas (1878-1934), pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), comunicou ao mundo científico a descoberta de uma nova doença humana. Seu agente causal (o protozoário que denominou de Trypanosoma cruzi, em homenagem ao mestre Oswaldo Cruz) e o inseto que o transmitia (triatomíneo conhecido como “barbeiro”) também haviam sido por ele identificados, ao final de 1908. O “feito” de Chagas, considerado único na história da medicina, constitui um marco decisivo na história da ciência e da saúde brasileiras.
Trazendo uma contribuição inovadora ao campo emergente da medicina tropical e dos estudos sobre as doenças parasitárias transmitidas por insetos-vetores, Chagas traria a público não apenas uma nova entidade nosológica, mas a realidade sanitária e social do interior do país, assolado pelas endemias rurais. Enaltecida por Oswaldo Cruz como a maior das “glórias de Manguinhos”, a descoberta trouxe imediato prestígio e projeção ao jovem cientista, que receberia várias distinções acadêmicas no Brasil e no exterior, tendo sido indicado ao Prêmio Nobel por duas vezes.
Dedicando sua vida profissional, junto a seus colaboradores, a investigar os vários e intricados aspectos da nova enfermidade, Chagas deu início a uma tradição de excelência acadêmica que se espraiaria de Manguinhos para outros centros científicos no Brasil e no continente americano. Ao mesmo tempo, chamou a atenção sobre a necessidade do enfrentamento concreto desta e outras endemias do interior, intimamente associadas à pobreza, gerando uma mobilização que ocuparia, a partir de então, as tribunas da política e das instituições de saúde.
A trajetória da produção de conhecimentos e ações sobre a doença de Chagas, ainda que iniciada sob a marca do “feito singular” de um cientista, tem sido, desde 1909, um empreendimento coletivo, a