Historial
IMPACTOS SOBRE MINAS GERAIS
Roberto Borges Martins*
A transferência da Corte portuguesa para o Brasil, cujo bicentenário comemoramos agora em 2008, representou um dramático ponto de inflexão, com repercussões profundas e duradouras, não só na nossa própria história, como também nos futuros desenvolvimentos de Portugal, da América e até mesmo da Europa.
Afetou tão intensamente tantos aspectos da vida brasileira – economia, política, sociedade, cultura, comportamento e outros – que alguns historiadores a ela se referem como a “segunda descoberta do Brasil”.
Apesar da amplitude da questão e da riqueza das abordagens possíveis, tanto a historiografia tradicional quanto a mais recente1 tendem a se concentrar em algumas poucas questões (fuga ou estratégia planejada, abertura dos portos às nações amigas, elevação do Brasil a Reino Unido a Portugal e Algarves, política externa do período joanino, bem como a própria figura e a vida pessoal de D. João, regente e depois monarca do império luso).
Do ponto de vista geográfico, a historiografia tende a privilegiar o estudo dos impactos sobre a cidade do Rio de Janeiro, que, com a mudança, assumiu o papel de
“Corte”, ou sede da Coroa.
Essa concentração de enfoques, que nos tem sido ensinada desde os primeiros livros escolares, é compreensível.
Afinal de contas, a “abertura dos portos” (em 28 de janeiro de 1808), ao acabar com o exclusivo comercial metropolitano, rompeu de forma irreversível com um dos pilares fundamentais do sistema colonial e, juntamente com os tratados de 1810, escancarou o Brasil ao predomínio econômico da Inglaterra.
A elevação do Brasil à condição de Reino Unido, em 1815, representou também uma mudança de status tão crucial, que sua tentativa de reversão pelas Cortes portuguesas em 1821 e 1822 é considerada como uma das causas imediatas da independência. Na verdade, esses fatos representaram rupturas e inversões tão drásticas na