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ENSAIO
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SOB O PODER DISCIPLINAR: VIGILÂNCIA, CONTROLE E NORMALIZAÇÃO DAS
CONDUTAS NO CONVENTO DA SOLEDADE ( SALVADOR-SÉCULO XVIII)
Adínia Santana Ferreira / adinia.ferreira@projecao.br
Mestre em História pela Universidade de Brasília
A prática do confinamento nos conventos e recolhimentos femininos coloniais, bem como em instituições congêneres de outros países, fundamentava-se no princípio de que apenas o isolamento tornaria possível o distanciamento das coisas terrestres, condição incontornável para o engendramento do devotamento à causa religiosa, bem como para o fortalecimento do considerado frágil caráter feminino. Tanto o devotamento ao outro, como o fortalecimento do caráter eram condições necessárias a qualquer um dos estados, de religião ou de matrimônio.
Formar e forjar vocações religiosas demandava distanciar-se do mundo profano e dos perigos e tentações que ele acenava para dedicar-se inteiramente ao mundo espiritual, entregar-se à Cristo e despojar-se de si para viver para a religião. Tal concepção de isolamento ainda permaneceu presidindo a criação dos primeiros colégios religiosos, femininos e masculinos, que funcionavam sob o regime de internato. Criados desde o século XVIII na Europa e XIX no Brasil, esses educavam crianças e jovens, de ambos os sexos, e igualmente atendiam a uma preocupação “de isolar a juventude do mundo sujo dos adultos para mantê-los na inocência primitiva, a um desejo de treiná-la para melhor resistir às tentações dos adultos”. ( ARIES, 1981, p. 231)
No caso das meninas e jovens encaminhadas aos conventos e recolhimentos coloniais, independente da condição- recolhidas e educandas, tal preocupação com o isolamento e com uma formação religiosa e moral capaz de melhor “treiná-las para melhor resistir às tentações dos adultos” explicita-se nos regulamentos e estatutos que regulavam aquelas instituições.1 Resistir às tentações,