herança maldita
As eleições deixam atrás de si o fogo dos interesses, das esperanças e dos sonhos que se transfiguram em euforia e desencanto. Em compensação, chocam-se, pela frente, com a maldição herdada do passado colonial, do escravismo e da subalternidade generalizada.
A brecha classe x utopia subsiste. Dos ricos e poderosos, por olharem a realidade como se mandar e explorar fossem um ópio. Dos oprimidos, por não entrelaçarem privações a toda a sua força e revolta.
O "sufrágio universal" suportou distorções chocantes.
Mas assustou os primeiros e acordou os últimos. Aqueles, porque descobriram que perdem com rapidez uma tirania secular. Estes, porque a cada volta do tempo sentem aproximar-se seu momento histórico decisivo.
O “presidente” recebe o impacto dessa maldição, que se dissolve lentamente, de maneira tão sórdida.
Prisioneiro dos de cima, percebe que a "Presidência imperial" também é uma armadilha contra ele. Não fala pela e para a nação e se engana com o "somos todos irmãos".
Sua liberdade de agir fica entre os humilhados aos quais não consegue estender mãos fraternas e solidárias.
Sua autoridade termina onde principia a autocracia da minoria dominante. Ela regula as oscilações de promessas falsas e de opressão real, incrustadas nas instituições quimericamente "constitucionais".
A maioria, composta por assalariados e milhões de destituído, recorre à submissão ou ao confronto.
Por sua massa poderia pulverizar o sistema que rouba, mente, divide e esmaga. Falta-lhe penetrar no enigma de suas contradições - seu poder de classe e a necessidade de assimilação com os sem-classe, batendo-se com eles por reforma ou revolução.
Ou seja, repudiar a ordem imposta como se fosse "democrática" e todas as falácias nela contidas.
A seu favor conta com utopias, que carecem de