Hamlet
por w. shakespeare (1600 – 1601) / r. alvim (2009 – 2010)
(Hamlet canta. Um Burro toca violão, acompanhando a canção)
Não há traidores entre as mulheres
A própria mãe não conta ao filho
Que elas não nos querem bem
Ela não será domada com conversas
A ausência é a única arma
Contra o supremo arsenal de seu corpo
Ela guarda um respeito especial
Para os escravos da beleza
Ela permite que eles a vejam morrer
Perdoem-me companheiros
Eu canto isso apenas para aqueles
Que não se importam com quem ganha a guerra
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(Néon pisca H.A.M.L.E.T.)
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(Gertrudes, Claudius, Hamlet. Gertrudes enfaixa um dos pulsos cortados de Hamlet. O outro pulso já está enfaixado)
GERTRUDES:
Por que?
Esta noite escura por que?
Andar sempre de olhar baixo
Procurando na poeira
Seu pai?
Tudo o que vive
Morre
Passa da natureza
Para a eternidade
Por que parece tão difícil pra você?
CLAUDIUS:
É prova
Prova de sua natureza
Sensível
O luto
Mas seu pai perdeu o pai e este pai perdido perdeu
O dele
Insistir na dor?
Não é digno de um homem
Coração sem força
Mente ansiosa
Entendimento simplório
Falta
Questionar o que tem que acontecer?
Que é natural até vulgar?
Ofensa a Deus
Ofensa à natureza
Ofensa aos mortos
GERTRUDES:
A eles também
CLAUDIUS:
À inteligência que sabe que a morte do pai
“Tem que ser assim”
Peço a você
Pedimos
Jogue fora a tristeza
Depressão inconveniente
E pense em mim
Agora
Pense em mim
Como um novo pai
HAMLET:
Esta carne
Pedaço de carne
Tão tão sólido
Se pudesse derreter degelar
Dissolver em gotas evaporar
Sair do mundo
Que horror cheio de horror
Jardim de mato crescendo sem parar
Incubadora de pragas moscas
Vermes
VOCÊS
Que tenham chegado a isto
Morto há menos de dois meses nem dois
Um pequeno mês
Nem gastou a sola do sapato
Que comprou especialmente para acompanhar o corpo