Guerra fria
Por L. Lothar C. Hein A história das relações internacionais dos últimos quarenta anos, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, foi ditada no contexto do “confronto nunca direto de dois grandes blocos políticos e econômicos”. Confronto este considerado por Hobsbawm como a terceira grande guerra mundial do século XX. Enquanto os conflitos internacionais anteriores relacionavam-se a um centro europeu e podiam ainda guardar relação e continuidade com o século XIX (aqueles que contrapunham potências desejosas de controlar política e economicamente mercados e territórios), a Guerra Fria: 1) estabilizou o “equilíbrio de poder” internacional, deslocando as esferas de choque para a oposição entre os dois sistemas, conformando os conflitos e rivalidades da política mundial; 2) forjou um novo sistema internacional, cuja lógica articulou as relações entre as nações; 3) constitui-se num conflito ideológico que, propagando-se através da mídia, atingiu culturalmente a sociedade e sua conduta; 4) forçou uma corrida armamentista, que criou um complexo industrial militar continuamente produtivo, que tendeu a buscar mercados nos conflitos convencionais localizados do Terceiro Mundo; 5) conseqüentemente, serviu como elemento incentivador de tais conflitos; e 6) inaugurou a era nuclear e a possibilidade de destruição global da humanidade. Muito embora conheçamos bem as conseqüências da Guerra Fria, a questão a respeito de sua natureza continua em debate. Qual o significado da Guerra Fria? 1. Projeto e ordem internacional Em certo sentido, pensar a Guerra Fria é também reconsiderar a própria produção teórica no campo das Relações Internacionais, a formulação dos seus paradigmas. Em primeiro lugar, o próprio processo de enfrentamento bipolar fornecia um modelo contundente que foi tomado, por alguns teóricos, como regra geral da história das relações entre as potências. Tornou-se o caso mais geral, eclipsando alternativas. Mais que isso, a teoria teria