Gritos na noite
Kandinsky- sem dúvida- ficaria alucinado, as figuras dançam ao som de Sinatra que invadia meu quarto. Já passavam das três. Pés se arrastavam na calçada. Os passos, lá fora, ecovam em meu recanto. Ouvia risos de mulher.
-Que isso Everaldo?! – Perguntou a mulher furiosamente. Com o telefone celular nas mãos.
-Uai, como assim? É meu celular.
- Não brinque comigo, Everaldo! Estou falando da mensagem. Aqui Oh!...Oh... Veja,
Veja bem.
- É uma mensagem da Mara, amiga de trabalho. O que tem isso?
- O que tem? Hã... O que tem?? Lê direito! – a Mulher mostra novamente o celular enquanto segura forte o braço do homem embaixo do poste de iluminação pública que contrastava com a penumbra da madrugada de lua cheia. E Lê em voz alta: - “preciso falar contigo...”
O homem ri mais alto e diz: - Ela está dizendo que quer falar comigo. Não vejo nada demais.
- Não? Não vê nada demais, Everaldo? Você não vê nada, nunca vê nada. Ela não fala que precisa falar contigo. Ela diz que Precisa falar contigo…
- como assim, Ana? Não estou entendendo nada.
- Você está entendendo perfeitamente. Não se faça de bobo! Ela usou reticências, RE.
TI. CÊN. CI. AS!
- Hã?
- Seu cara de pau?- Ana o encosta na parede - Ela termina a frase com reticências!
- Não entendi ainda?
- Como, não entendeu?! Ela terminou a frase com reticências isso quer dizer alguma coisa e coisa comprometedora.
Ele solta uma gargalhada demoradamente e responde: - Que absurdo, Ana!
Você tem uma imaginação muito fértil. Dessa vez você exagerou. Você se superou.
- Exagerei? Exagerei? Eu exagerei?
- Lógico! A Mara trabalha comigo, nos vemos o