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HIPÓTESE

Seria possível descrever a traços largos a história da «idéia de ciência» descrevendo as alterações de estatuto da noção de hipótese. Por certo, em virtude da extensão sem precedentes dos domínios atualmente explorados, com sucesso, pela ciência, do refinamento sempre mais audacioso das abstrações a que recorre, o pensamento contemporâneo parece ser particularmente sensível ao problema da natureza e do valor das hipóteses cientificas. A palavra hypotheses em grego liga-se ao verbo tifheni ‘ponho’ e à partícula hypo ‘por baixo’. A palavra de origem latina ‘suposição’ é, portanto, o seu decalque literal; o seu sentido envolve simultaneamente a idéia de ‘conjetura’ e a de ‘princípio’, de ponto de partida de um raciocínio. Na ciência tal como se nos apresenta hoje em dia, é difícil e certamente artificial pretender distinguir em todos os casos, à viva força, hipóteses isoláveis e sistemas teóricos complexos. Portanto, iremos tratar de hipóteses num sentido lato, abrangendo o que por vezes se chama «princípios» e mesmo as grandes teorias que constituem o seu desenvolvimento. É certo que os Antigos não ignoraram a presença de hipóteses na ciência. Mas o papel que lhes reconheciam é característico justamente das profundas diferenças entre a sua concepção entre a sua concepção da ciência e a nossa. Para Platão, o método «por hipóteses» consiste em propor uma definição do objeto estudado para em seguida extrair as suas conseqüências, ou seja, procurar as condições que tornam efetiva esta definição. Se chamarmos «círculo» a figura plana cujos pontos são eqüidistantes dum centro, ela possuirá determinadas propriedades; o objeto que se pretender identificar a um «círculo» deve, portanto, possuir essas propriedades. Método que, segundo Platão, é o das matemáticas, mas de que a dialética, única verdadeira das essências, apenas pode fazer um uso provisório, como mostra o exemplo do Méron, em que a tentativa para definir por esse modo a virtude conduz a uma aporia. É

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