Ginzburg E O Paradigma Indici Rio
4249 palavras
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Ginzburg e o paradigma indiciárioNelci Tinem e Lucia Borges*
1. O osso e a cauda
«O cachorro crê morder um osso, quando na realidade está mordendo a própria cauda».
(GINZBURG apud TAFURI, 1984:5).
Encontramos em Ginzburg a busca dos indícios e o cruzamento da análise morfológica com a pesquisa histórica. A relação entre morfologia e historia é um instrumento importante em seu trabalho. Na introdução de um de seus livros encontramos o seguinte comentário:
«Seu programa se fundamenta em um paradigma 'indiciário' cujas origens na segunda metade do século XIX são estudadas pelo próprio autor, revelando as possibilidades epistemológicas abertas pelas obras do crítico de arte Giovanni Morelli, pelo romancista Conan Doyle e pelo psiquiatra
Sigmund Freud (todos os três graduados em medicina, desenvolvem em diferentes campos a semiologia médica). Daí, suas incursões experimentais no estudo do mito dos homens-lobo, na análise dos códigos de figuração erótica do século XVI ou na contextualização da pintura de Piero della Francesca»
(BETHENCOURT & CURTO, 1991).
Ginzburg é fascinado pela investigação aos moldes de Morelli e de Conan Doyle; uma investigação quase criminal, detetivesca, que desvenda o mistério baseado em indícios imperceptíveis para a maioria das pessoas. Freud também não escondia sua admiração por Morelli e comparava seu método à técnica da psicanálise médica. Sintomas para Freud, indícios para
Holmes e signos pictóricos para Morelli, os vestígios eram importantes para os três profissionais dedicados a sintomatologia médica, disciplina que, para o historiador em tela, permite diagnosticar enfermidades inacessíveis à observação direta, com base em sintomas superficiais, muitas vezes irrelevantes aos olhos do profano.
Segundo Ginzburg, ainda que as raízes do método indiciário remontem ao início da atividade intelectual do homem, seu desenvolvimento mantém estreitos vínculos com a tendência à criminalização da luta de classes surgida das relações de produção