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uma luz em nosso caminho*
Marlise Míriam de Matos Almeida**
Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam de feminino.1
Escritora, filósofa, mulher na vanguarda de muitas idéias e de várias atitudes: é realmente difícil definir ou delimitar a importância de Simone de Beauvoir para nós, mulheres e homens. Filha de um casal de contrastes – uma mãe fervorosamente católica e provincial e um pai cosmopolita e agnóstico –, Simone parece ter conseguido construir seu “projeto” de vida de forma profundamente (e para muitos da época, irritantemente) independente. Tantos são os livros, autores e autoras importantes em nossas vidas... mas na minha, Madame de
Beauvoir encontra um lugar especial. Ainda cedo, com dezenove ou vinte anos, me deparei com aquele que seria o divisor de águas de minha própria trajetória intelectual e profissional: O
Segundo Sexo. Obra genial que completa agora vigorosos cinqüenta anos de idade, ela foi lida por mim com avidez e
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Recebido para publicação em agosto de 1999.
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Departamento de Sociologia, Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro, e pesquisadora da Universidade Federal de Minas Gerais.
BEAUVOIR, Simone de. O Segundo Sexo. Rio de Janeiro, Nova Fronteira,
[1949] 1980, p.9. (negritos meus)
1
cadernos pagu (12) 1999: pp.145-156
Uma luz em nosso caminho
perplexidade numa época em que eu não podia sequer medir ou antecipar as conseqüências que viria a ter sobre meu espírito e minha mente.
Assim como eu, que o li quando o livro já comemorava trinta e quatro anos de publicação, O Segundo Sexo foi um livro memorável, remarcável, para várias gerações de mulheres que me antecederam e que ainda me sucedem. A própria constituição do campo de saber