Genetica
Antropologia e psicologia: apontamentos para um diálogo aberto
Claudia Fonseca PPG Antropologia UFRGS
Para iniciar essa conversa sobre o diálogo entre Antropologia e Psicologia, a convite da equipe de “Clínica em Debate”, gostaria de lembrar que outras pessoas, muito mais qualificadas do que eu, já escreveram sobre esse assunto. Aqui, proponho simplesmente trazer, a base de minhas pesquisas sobre diferentes formas de organização familiar, alguns apontamentos que poderão alimentar a discussão entre colegas presentes. Para tanto, me
apoiarei em alguns dos clássicos de Antropologia, em particular, na obra em que Malinowski debate com Ernest Jones (amigo e biógrafo de Freud) a universalidade do complexo de Édipo, “Psicanálise e Antropologia”. Embora trate-se de um trabalho do
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início do século (1927), em muitos aspectos antiquado , ele tem o mérito de indicar certos pontos de atrito entre as duas disciplinas, fornecendo um estímulo para minha reflexão. Dividirei meus comentários em quatro pontos de comparação: as bases epistemológicas de cada ciência, seus objetivos, seu método, e aplicações concretas à análise de famílias.
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A obra em que se encontra “Psicánalise e Antropologia”, Sexo de Repressão na Sociedade
Selvagem, desnuda falhas no pensamento vitoriano de Malinowski. Apesar de realizar, com admirável sucesso, a relativização de “costumes” nativos, o autor ainda mantém uma perspectiva altamente evolucionista e “naturalista” do comportamento humano – perspectiva essa que estaria fora de lugar na maioria de tratados antropológicos hoje. 1
As bases epistemológicos
Durante o debate que mantive, no âmbito de “Clínica em Debate”, com uma platéia composta em grande medida de psicólogos e psicanalistas, tive a sensação de estar fazendo um ziguezague – entre as