genetica
As controvérsias a respeito da participação de Rosalind Franklin na construção do modelo da dupla hélice
Marcos Rodrigues da Silva
resumo
Em The double helix, James Watson narra sua versão da construção do modelo da dupla hélice do DNA, na qual indica que Rosalind Franklin, física especialista em cristalografia de raios X, desenvolveu trabalhos empíricos fundamentais para a construção do modelo de Watson e Crick. O relato de Watson dá origem a um problema historiográfico: por que Franklin, que dispunha dos dados empíricos produzidos por ela mesma, não decifrou a estrutura molecular do DNA? O próprio Watson fornece uma resposta, ao sugerir que Franklin não teria nenhuma inclinação teórica para a representação helicoidal do DNA, fazendo trabalho estritamente experimental. Essa sugestão tem recebido réplicas de historiadores, de modo que o problema historiográfico subentendido no relato de Watson se manteve até hoje. No entanto, é possível obter pistas de que, antes de estar envolvida com a construção de uma estrutura para o DNA, Franklin estava preocupada em mapear todos os aspectos da molécula. Este artigo tem dois objetivos: mostrar que a linha de defesa de Franklin adotada por alguns de seus defensores muitas vezes acaba, na verdade, por comprometê-la e apresentar um esboço de interpretação alternativa que, ao não atribuir a Franklin o objetivo principal de construção da estrutura molecular para o DNA, acaba por dar-lhe um papel muito mais confortável do ponto de vista histórico (o que não significará negar que ela tivesse o objetivo secundário de alcançar uma estrutura para o DNA).
Palavras-chave ● Rosalind Franklin. James Watson. Francis Crick. DNA. Dupla hélice.
Estrutura do DNA. Função genética do DNA.
Introdução: apresentação do problema historiográfico
Um dos eventos científicos mais importantes do século passado foi, sem dúvida, o da construção do modelo da dupla hélice do