Gaudí
Reflexões sobre a natureza, o projeto e a arquitetura
Fui amamentado por muito tempo. Antes dos seis anos comecei a ser submetido ao reumatismo que apareceu diversas vezes na minha vida. Essa doença teve consequência relevante na minha formação na juventude: ficava na fazenda, onde muitas vezes tive de ser carregado por um burro porque a dor me impedia de caminhar. Em seguida comecei a desenvolver as tarefas escolares no jardim de infância do mestre Berenguer e, depois, na escola do senhor Palau.
Com os vasos de flores, circundado por vinhas e oliveiras, alegre com o cacarejar do frango, com o piar dos pássaros e com o zumbido dos insetos, e com as montanhas de Prades ao fundo, apanhei as imagens mais puras e agradáveis da natureza, aquela natureza que sempre foi minha mestra.
Por causa de minha fraqueza, com frequência devia abster-me de participar de brincadeiras dos meus amigos, fato que estimulou em mim o espirito de observação. Assim, uma vez, quando o professor explicava que os pássaros têm asas para voar, lhe disse: “As galinhas da nossa fazenda têm asas muito grandes, mas não servem para voar: servem para correr mais rapidamente”.
Se não pudesse ter sido arquiteto, a profissão que mais teria me atraído seria a de construtor de barcos.
Esta árvore está perto do meu criador: é ela a minha mestra!
O livro da natureza O grande livro, sempre aberto e que é preciso esforça-se para ler, é o da natureza; os outros livros derivam desse e contêm também interpretações e equívocos dos homens. Existem duas revelações: uma é a dos princípios da moral e da religião; a outra, que guia os fatos, é a do grande livro da natureza. OS aviões apresentam uma disposição parecida à dos insetos, com asas planas e não rígidas, que já há séculos voam perfeitamente. A construção se propõe a nos proteger do sol e da chuva, como a árvore que acolhe o sol e a chuva. A imitação [da natureza] chega até os elementos arquitetônicos, uma vez que as árvores