Fundamentalismo Islamico
o presente artigo resulta de um estudo realizado pelo autor na sua qualidade de colaborador do Instituto da Defesa Nacional, e seleccionado para publicação na revista «Nação e DefesQ».
Sumário:
A emergência dos movimentos fundamentalisLas constitui uma resposta à
modernização proposta pelos Estados-Nações. É o sintoma de uma crise generalizada: crise económica, cultural e de identidade e crise de autoridade, Os fundamentalistas advogam a aplicação da «Charia» - Lei islâmica - como único
fundamento de organização da sociedade. A questão do método a utilizar para instaurar a sociedade islâmica opõe fundamentalistas moderados e radicais. Os
primeiros advogam a re-islamização pela base, mantendo, contudo, pressão sobre os dirigentes para que estes provoquem a transformação da sociedade. Os radicais consideram que não há lugar para compromissos com a actual socieda-
de, Advogam por isso a ruptura política e introduzem o conceito de revolução.
Maria do Céu Ferreira Pinto
o FUNDAMENTALISMO ISLÂMICO
I. O FUNDAMENTALISMO COMO SINTOMA GLOBAL DE CRISE
A CRISE DE MODERNIDADE
É corrente a aplicação do termo «fundamentalista» a vários grupos radicais e militantes islâmicos. A designação «fundamentalista» é de origem cristã. Foi particularmente usada nos primeiros anos do século para designar certas Igrejas e organizações protestantes, nomeadamente aquelas que defendiam a origem divina literal e a impossibilidade de erro da Bíblia. Opunham-se aos teólogos liberais e modernistas que tinham uma visão crítica das Escrituras. Esta abordagem liberal não tem correspondência com a dos teólogos ou crentes muçulmanos que, na sua atitude relativamente ao Texto sagrado, são naturalmçnte fundamentalistas. O termo «integrismo» é utilizado no mesmo sentido e surgiu também no contexto cristão. A utilização desta expressão pode também induzir em erro, pois subentende que numa época anterior os princípios de base do Islão