Funcionamento psiquico e manejo clinico de paciente somáticos
RESUMO
O presente estudo tem como objetivo apresentar um panorama, em termos teóricos e clínicos, da concepção psicossomática de Joyce McDougall. A noção de desafetação será utilizada como operador conceitual básico. Trata-se de um distúrbio da economia afetiva típico de pacientes somáticos, o qual promove uma incapacidade quase total em manter contato com as emoções próprias e alheias. Dentre outras especificidades da clínica psicanalítica com pacientes somáticos, destaca-se que ao profissional será imposto o desafio de funcionar como um filtro - sendo, assim, capaz de regular o afluxo de excitações, que tende a desencadear descargas corporais em função da inviabilidade, associada à desafetação, e de recorrer às palavras para torná-lo dizível.
Palavras - chave: psicossomática; psicanálise; psicologia clínica.
INTRODUÇÃO
Durante sua passagem por Paris, no final do século XIX, Freud verificou, nas histéricas do Hospice de la Salpêtrière, que desejos de natureza sexual recalcados eram inscritos no corpo mediante o emprego inconsciente de um mecanismo psíquico até então desconhecido. Por essa razão, afirmou que "[...] na histeria, a representação incompatível é tornada inócua pela transformação de sua soma de excitação em alguma coisa somática. Para isso eu gostaria de propor o nome de conversão" (Freud, [1894a] 1996: 56). O até então eminente neurologista evidenciou, assim, que as doenças orgânicas não são decorrentes apenas de agentes biológicos e que o corpo é susceptível às vicissitudes da mente.
Vale mencionar também que Freud já havia concluído que "[...] a paralisia histérica comporta-se como se a anatomia cerebral não existisse. A histeria nada sabe sobre a anatomia cerebral" ([1893] 1996: 238). Partindo desse princípio, Volich (1998) defende que o corpo histérico - acometido por sintomas que apresentam uma relação metafórica com uma representação